🪞 reflexos de uma história

andando de bicicleta, em frente a estação de metrô Notting Hill, numa madrugada gelada, que uma folha caiu nos meus cabelos e tive a certeza que era em Londres, onde me tornaria escritora.

assim desaguei o processo de escrever meu primeiro livro, cuja sementinha já havia sido plantada quando morava numa rua chamada Servidão da Magia, na conhecida ilha da magia de Florianópolis, sul do Brasil.

a ideia emergiu do trabalho no projeto que criei, Tarô Terapia, em 2017. lendo o tarô nas minhas consultas, contava para diferentes pessoas as histórias que estavam desenhadas em cada uma das cartas. sentia-me como uma interpretadora de símbolos.

o resultado era quase sempre poderoso. as pessoas relacionavam o que estavam vivendo com os significados das cartas. percebi que elas recebiam clareza a partir de uma narrativa que era capaz de dar sentido as suas experiências.

fui atrás de entender isso mais. meu interesse pelo tarô era de estudar a jornada da heroína e arquétipos que podiam dar vida a escrita. da mesma forma, havia feito graduação e mestrado em história cultural porque buscava uma base sólida para me tornar escritora. assim, revisitei filósofos, historiadores, psicólogos sociais e antropólogos, que já havia estudado na academia, para descobrir uma universo novo de percepções.

descobri que as histórias das cartas do tarô funcionavam como mediadoras. elas traziam o significado que já estava ali, em algum lugar, de volta para a consciência de cada indivíduo. isso permitia as pessoas se sentirem mais livres, corajosas, intuitivas e verdadeiras.

conforme os anos foram passando, a Louca se comunicava comigo e pediu para ser escrita. ela fez isso nas minhas próprias escolhas pessoais: me mudei para a Itália e para a Inglaterra num mesmo ano, cheguei em Londres sozinha, com uma mala na mão e poucas libras no bolso, acreditei que existe algo além do que os olhos podem ver, organizei o primeiro festival de artes integradas do bairro onde moro, no epicentro da cultura inglesa, abri minha editora independente, comecei a andar de skate com 31 anos, entre outras coisas que fazem nosso coração saltitar - pulando do abismo.

e a Louca também se comunicou pelo desejo que tinha de tocar você, e te tornar livre, corajosa, intuitiva e verdadeira também.

hoje, sigo inundando a vida de palavras, e buscando histórias que abrem as portas do nosso mundo interno. trabalho para levar a Louca ao mundo, escrevo palavras de coruja, estou desenvolvendo uma peça de teatro na língua inglesa, faço gestão de projetos culturais transnacionais, e tento viver intensamente o calmo permanecer.

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Historiadora por formação, a pesquisa é inspiração criativa para os textos de Júlia Albertoni, os quais conduzem os leitores por lugares misteriosos, místicos e poéticos. Brasileira, atualmente, vive em Londres, onde fundou a editora independente Coruja Press e trabalha com gestão de projetos transnacionais.